"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem." (Rubem Alves)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

"EU ME SINTO UM DAVI ENFRENTANDO O GOLIAS"


Daniel Fagner Rodrigues é um jovem universitário que enfrenta a cada dia batalhas de gigantes. “Eu me sinto um Davi enfrentando um Golias”, revela. E a voz não é de quem se assusta. Montado em sua cadeira de rodas motorizada, o jovem não se restringe às paredes de casa e quer atravessar o portão para ganhar o mundo. Pequenos limites para a maioria das pessoas, grandes barreiras para os cadeirantes. “Uma calçada desnivelada tira quase toda a minha vontade de andar por Fortaleza. Eu vou de teimoso”.

Propomos a Daniel acompanhá-lo em tarefas comuns. Pegar um ônibus até a Universidade Estadual do Ceará, na qual cursa Serviço Social e ir ao local onde estagia. Os obstáculos já começam da porta. Ele não consegue alcançar o trinco do portão do prédio e pede ajuda. “Isso aqui é muita humilhação. Não me sinto cidadão”, lamenta, de cabeça baixa. Logo virão outras barreiras. A calçada muito estreita e desnivelada tem um poste de iluminação bem no meio. O jovem precisa atravessá-lo pela pista, com o risco de atropelamento.

Vencidas as primeiras etapas, começa mais um desafio, aparentemente simples: aguardar a vinda de um ônibus adaptado. Chegamos à parada às 9h45min. E lá vem um Francisco Sá/Parangaba, em pouco mais de cinco minutos. Rápido até. O transporte, entretanto, não tem o elevador. Aguardamos o próximo.

O sol queima a cabeça de Daniel e faz o tempo ficar ainda mais devagar. Chega o próximo, o seguinte e o depois. Os sete primeiros ônibus sem adaptação. Daniel coloca um boné na cabeça ensopada de suor. Já são 10h45min e nada de transporte para cadeirantes. O rapaz pergunta a um dos motoristas qual o horário do veículo adaptado seguinte. “Onze e dez ele sai do fim da linha”, é a resposta.

Dois “Franciscos Sá” e 15 minutos depois, finalmente vem um veículo com adaptação. Uma hora e meia de espera. Subir no ônibus durou poucos segundos para a repórter e para o fotógrafo. Para Daniel, cerca de um minuto e meio. “Nem todo motorista está disposto a esperar esse tempo, mesmo que pequeno”, alega o rapaz. Disposto no lugar reservado para cadeirantes, o motorista dispara. Pela direção rápida, se mostrava atrasado.

Como qualquer pessoa, Daniel prima pela autonomia. “Mesmo sendo cadeirante. Eu poderia pegar algum ônibus sem elevador, mas acredito que isso gera muita dependência. Nem todo mundo está disposto a contribuir”, assegura por algumas experiências. Um colega na universidade, por exemplo, se recusou a ajudá-lo a subir na calçada sem rampa. “Disse que estava atrasado. Desde esse dia, evito ao máximo pedir ajuda”.

Da Uece, Daniel resolve pedir um carro adaptado, para se dirigir ao estágio. A fase foi a mais fácil. Sorte? Ele acredita que sim. Na segunda ligação a uma cooperativa de taxistas havia carros adaptados. O taxista avisa que há 40 carros daquele tipo na cidade. Mas nem todos aceitam transportar cadeirantes. E Daniel não perde o bom humor. “E é mais barato agora, é? Né não é a mesma tarifa, não? Olha que eu vou começar a pagar menos”.

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A Lei Federal 10098/2004 determina que até 2014 toda a frota brasileira de transporte coletivo esteja adaptada para atender aos cadeirantes. A norma foi aprovada antes da decisão de que a copa de 2014 seria realizada no Brasil.

SAIBA MAIS

Em matérias publicadas dias 2 e 3 de dezembro, O POVO acompanhou as dificuldades da cadeirante Carlota Amália, 33, de se deslocar pelos órgãos públicos de Fortaleza devido à falta de acessibilidade.

Ônibus
O presidente da Etufor, Ademar Gondim afirma que o trabalho de adaptação dos ônibus em Fortaleza se intensificou a partir de outubro de 2008, quando todos os novos veículos traziam adaptações. Segundo ele, a meta é que toda a frota tenha elevadores até 2014.
Daniel Fagner Rodrigues foi diagnosticado com artrite reumatóide aos cinco anos. Aos nove, perdeu totalmente a mobilidade. Hoje a doença crônica está estagnada.

Para conseguir comprar a cadeira de rodas adaptada, Daniel organizou um bingo. O prêmio foi um aparelho celular, de modelo simples. O rapaz arrecadou com o bingo metade do valor da cadeira. O restante foi parcelado.

O apartamento onde Daniel vive com os pais e um irmão é alugado, por isso, a família acha que não vale a pena adaptá-lo.

Treze é o número de veículos na linha Francisco Sá/ Parangaba.

Dos 1.748 ônibus de Fortaleza, 528 possuem adaptações para cadeirantes. A meta é que cada um dos veículos que circulam por Fortaleza seja adaptados até 2014.

Fonte: O POVO ONLINE - 04.02.2011

CRESCE A OFERTA DE CARRO COMPARTILHADO ONDE O USUÁRIO PAGA APENAS TEMPO DE USO


Milhões de associados se utilizam de novo serviço de transporte nos Estados Unidos

A crise e a maior consciência ambiental abastecem nos EUA um novo negócio: o compartilhamento de carros, com serviços que funcionam como um clube no qual o associado paga apenas pelas horas em que efetivamente usou o veículo. Em dois anos, o mercado dobrou para, estima-se, 600 mil usuários. Diferentemente do aluguel tradicional, em que há tarifa diária, no compartilhamento o usuário paga para usar um dos carros do serviço uma anualidade ou mensalidade - neste último caso, há cota de horas embutida. Seguro e gasolina estão inclusos.

O público-chave para empresas como a Zipcar, que domina o setor e conta com mais de 500 mil associados e 8.000 veículos, é de universitários, jovens famílias e casais em grandes cidades, onde o transporte público é farto e a garagem é rara (e cara).Mas cada vez mais empresas e instituições adotam o serviço para substituir o "carro da firma". A prefeitura de Nova Iorque se somou em outubro aos 10 mil contratos do tipo da Zipcar e anunciou um acordo-piloto para poupar US$ 500 mil (R$ 843 mil) em quatro anos. Um estudo da consultoria britânica Frost & Sullivan citado pela revista Economist prevê que o mercado de compartilhamento movimentará US$ 6 bilhões (R$ 10,1 bilhões) e terá 10 milhões de usuários até 2016. Metade desse volume virá dos Estados Unidos.

De olho nesses números, a Hertz, líder no aluguel tradicional com a Avis, lançou em 2009 o Connect by Hertz, que segue o molde da Zipcar. Fabricantes também estão atentos: a alemã Daimler, que produz o Smart, lançou no fim de 2009 um serviço que oferece exclusivamente o carrinho, o "car2go". Por ora, além da Alemanha, opera apenas em Austin, Texas. Mas há planos de expansão. A empresa de Cambridge, na grande Boston (Massachusetts), tinha 42 carros quando surgiu, em 2000, inspirada em programas da Europa. Hoje, está em mais de 90 cidades dos EUA, em Londres, em Montreal e em Toronto.

O imediatismo e a hipermobilidade são uma das bases do serviço. Para alugar um carro, é possível reservá-lo on-line minutos antes do horário desejado - há aplicativos para BlackBerry e iPhone que permitem não só a reserva mas sua alteração. Os veículos ficam espalhados em estacionamentos de universidades, shoppings, empresas e até postos de gasolina, em vagas cativas.O usuário recebe um cartão ao se associar e o utiliza para destrancar os carros.
Custo para clientes começa em R$ 10,60 por hora

O preço do compartilhamento de carros varia segundo a cidade, mas começa em US$ 6,30 (R$ 10,60) a hora na Zipcar e US$ 7,65 (R$ 12,90) na Connect by Hertz. A inscrição é de US$ 25 (R$ 42,10) em ambas, e a anualidade mais barata custa US$ 60 (R$ 101,10) na primeira e US$ 50 (R$ 84,30) na segunda.A diária na locadora tradicional da Hertz, em cidades médias nos EUA, não sai por menos de US$ 70 (R$ 118,00) com seguro. A gasolina não é incluída, ao contrário do que ocorre no compartilhamento. Mas é com a indústria automotiva e não com as locadoras tradicionais, que a Zipcar quer concorrer. Um estudo feito em 2008 pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, indica que cada veículo compartilhado tira 15 carros da rua. Naquele ano, quando os usuários nos EUA somavam 300 mil, foram economizados 3,4 milhões de litros de gasolina e emitidas 11 mil toneladas de gás carbônico a menos.

O mesmo levantamento de Berkeley mostrou que os motoristas que optaram pelo compartilhamento gastaram 8% do que desembolsaram os proprietários de veículos com manutenção, garagem, seguro e gasolina. Em sua missão, a Zipcar cita "um futuro no qual o compartilhamento de carro supera, em número de adeptos, os proprietários de veículos nas grandes cidades". Os custos da operação, no entanto, são altos, e a Zipcar tem registrado prejuízo - embora o atribua, nos últimos dois anos, a custos operacionais de expansão, com a recente aquisição de companhias menores nos EUA e na Inglaterra. Neste ano, a empresa planeja fazer uma oferta pública inicial de ações.